Mesa ou fino? Tradição do vinho ‘doce’ cede espaço a outros tipos para acompanhar mudança do paladar do consumidor


Ao passo em que os vinhos finos vêm ganhando espaço no mercado, produção de uva tem se expandido para novas regiões de São Paulo. Estado já tem mais de 250 vinícolas. O estado de São Paulo tem mais de 250 vinícolas e a maioria delas começou produzindo vinho suave, que tem por característica ser doce, na região de Sorocaba e Jundiaí. A tradição fez dessas cidades os dois maiores polos produtores do vinho paulista. Mas a preferência do consumidor está mudando com o passar do tempo, e os vinhos finos vêm ganhando espaço no mercado. Ao mesmo tempo, a produção tem se expandido para outras regiões.
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Vinho suave ou fino? Vinícolas acompanham mudança de paladar do consumidor
Reprodução/TV TEM
Uma fazenda em Ribeirão Branco, na região de Itapetininga, sedia um dos maiores investimentos no vinho de São Paulo nos últimos anos. São 587 hectares de natureza e uva, bem longe das cidades que mais produzem a bebida. A aposta do empresário dos transportes José Afonso Davo levou 15 anos para ser concretizada.
José Afonso Davo levou 15 anos para realizar sonho de produzir vinho
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O início foi de percalços: inicialmente, as uvas foram reprovadas pelo enólogo. “Ele mandou arrancar fora. Fiquei triste, viu, mas eu vi que realmente eu tinha que voltar três passos para trás para começar a dar o passo certo”, comenta Davo, que hoje vê os vinhos de primeira linha produzidos ali ganharem o mundo e receber prêmios no exterior.
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“Essa trajetória para chegar no topo, aí você vê aquela tacinha na mão e pensar que você tem um vinho da terra, né? É gratificante, viu. É um orgulho, uma emoção que a gente fica até meio bobo”, descreve Davo.
Em Jundiaí, uma família de imigrantes italianos começou a produzir vinho em 1968. Aristides Leme da Silva tocou o negócio por anos. Era tudo muito artesanal, com a família toda na lida. O prédio ainda é o mesmo, no formato de um grande barracão que preserva as características da construção do século 19 mas, hoje, é a terceira geração que cuida de tudo.
Gustavo Leme, empresário e enólogo de Jundiaí
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Gustavo Leme está fazendo o que os pais não tiveram oportunidade: ele estuda enologia. Ele é o responsável por manter o legado da família e acompanhar as novidades do mercado.
“É um motivo de orgulho porque a gente conseguiu, hoje, agregar muito da tradição que meu avô trouxe, que é muito importante e sem ele a gente não estaria aqui, e ao mesmo tempo a gente conseguiu agregar toda a tecnologia que hoje temos disponível para também trazer novos produtos, novas ideias, novas concepções de vinho para o mercado”, resume Gustavo.
Nos dez hectares da propriedade estão plantados 18 mil pés de uva bordô, syrah e cabernet franc. São variedades europeias que se adaptaram bem ao clima do interior paulista. Mas o negócio da família sempre foi artesanal: a produção do vinho de mesa suave que, para o cliente Carlos Henrique Dias, é o “melhor do mundo”. Há 28 anos, ele sai de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, para buscar o vinho em Jundiaí.
Carlos Henrique Dias não abre mão do vinho suave
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“Isso daqui vai ser para desforrar o que eu não aprecio aqui para degustar antes de levar. Estou deixando todo mundo que veio aqui comigo tomar e agora quando chegar em casa será a minha vez”, brinca, de carrinho cheio, no qual não podem faltar os famosos “garrafões”.
🍇☀️ Calor não é problema
Em Penápolis, no centro-oeste paulista, em meio a uma imensidão de cana de açúcar, uma vinícola cultiva 12 mil pés de uva. E o que movimenta os negócios da família virou um atrativo regional: é a única produção de vinho em um raio de 100 quilômetros. Por isso, todo fim de semana a propriedade fica cheia de turistas que querem conhecer tudo de perto.
Fábio Ferracini produz vinho em Penápolis
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O empresário Fábio Ferracini passou uma década experimentando técnicas de produção de vinho que não deram certo. Foi só em 2017 que saiu a primeira safra.
“(É preciso) desmistificar um pouco disso, né? A uva não só gosta de clima frio. A uva gosta muito de exposição solar. É isso que dá a qualidade e, claro, a gente teve que desenvolver a técnica correta. Já está surgindo um projeto em Andradina, em Marília, já tem pessoas plantando em Mirassol, Oscar Bressane, enfim, várias pessoas estão abrindo os olhos de que também se produz boa uva na nossa região. E ao se produzir boas uvas, consequentemente se produz bons vinhos”, pontua Ferracini.
Atualmente, a vinícola tem 25 rótulos nas prateleiras e o seu carro-chefe é uma linha de vinho fino que faz homenagem às árvores brasileiras. Mas sem abandonar o vinho suave que muita gente faz questão de tomar uma tacinha todo dia – assim como recomendam os médicos. Caso, por exemplo, de Leonardo e Heloísa Sampaio, que fazem questão de viajar entre Marília e Penápolis para comprar vinho.
Leonardo e Heloísa Sampaio viajam entre Marília e Penápolis para comprar vinho
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“Estamos levando uma caixa (de garrafas), que é para o nosso fondue amanhã”, conta Leonardo. Heloísa completa: “Porque nós vamos receber as irmãs dele, então nada melhor que um vinho pra celebrar, para alegrar a família, né?”
🍷⚙️ Legado e inovação
Em São Roque, o vinho de mesa alavancou os negócios e fez a fama da família Góes. O legado é de cinco gerações cuidando da plantação e da produção.
Em São Roque, legado da família Góes é de cinco gerações
Thiago Ariosi/TV TEM
“A gente nasceu dentro desse lugar, com essa honra sendo carregada. Então ela foi colocada pelos nossos pais, avós, bisavós, mas a gente se acostumou com isso. Para nós nasceu assim, normal, debaixo de um pé de uva, dentro de uma adega de vinho”, diz o empresário Cláudio Góes.
Em 28 hectares estão plantados dez mil pés de uva de 32 variedades. A vinícola é uma das maiores do estado e, por hora, produz sete mil garrafas de vinho. “São, hoje, 250 famílias que vivem de forma direta da vinícola e, com o tempo passando e as gerações chegando, a gente vai começando a entender a responsabilidade que é isso”, comenta Góes.
A responsabilidade vem sendo transformada em inovação e, por isso, os enólogos decidiram refinar alguns processos. Como as 100 barricas de carvalho francês e americano, todas cheias de vinho, que vão maturar por anos.
O enólogo Fábio Góes é um dos profissionais mais respeitados do país e chamado para diversas consultorias, concursos e desenvolvimentos. Ele aposta, agora, na uva cabernet franc. Dentro da garrafa são seis safras da mesma uva. Um vinho fino que só vai melhorar com o tempo.
“A hora em que nós tiramos e blendamos (misturamos) todas, primeiro em laboratório, na hora já conversamos: vamos tirar logo, colocar na garrafa para não perder esse blend. Foi um sucesso, é um grande vinho que vale muito a pena conhecer”, convida.
Vinho de mesa foi a base para o crescimento da empresa que hoje também faz vinhos finos em São Roque
Thiago Ariosi/TV TEM
🎥🍷 Vinhos SP
Reportagem e apresentação: Thiago Ariosi
Produção: Carla de Campos
Imagens: Fernando Bellon e Witter Veloso
Edição de mídia audiovisual e finalização: Sergio Camargo
Edição de texto: Mateus Soares
Edição de texto web: Eric Mantuan
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