Rio Tietê tem pontos com qualidade da água boa e regular no centro-oeste paulista, diz relatório


Pontos em Botucatu e Barra Bonita (SP) foram analisados em um relatório da ONG SOS Mata Atlântica, divulgado na sexta-feira (21). Especialista alerta que, ao contrário do que parece, a situação merece alerta. Relatório aponta piora na qualidade da água em rios do interior de SP
Um relatório divulgado pela ONG SOS Mata Atlântica trouxe um cenário preocupante para os rios que cercam locais com áreas de mata classificadas como pertencentes ao bioma da Mata Atlântica.
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Em 145 pontos de coleta, distribuídos por 67 municípios de 14 estados, não houve avanço significativo na qualidade das águas dos rios monitorados pela organização, ou seja, não houve melhora nem piora relevante.
No centro-oeste paulista, apenas dois pontos de um único rio foram analisados no estudo: o Rio Tietê, nas proximidades de Botucatu (SP) e Barra Bonita (SP).
O estudo agrupa dados fornecidos por medidores locais. No caso de Botucatu, a medição é realizada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) no distrito de Rio Bonito, enquanto em Barra Bonita a coleta de dados é feita por alunos da escola do Serviço Social da Indústria (Sesi).
Rio Tietê no bairro Rio Bonito em Botucatu (SP)
Reprodução/TV TEM
Entre os apenas 11 pontos que atingiram a classificação boa, está o Rio Tietê, nas proximidades de Rio Bonito, em Botucatu. Já em Barra Bonita, a qualidade da água foi considerada regular, assim como em outros 108 pontos analisados.
Os dados selecionados geram o Índice de Qualidade da Água (IQA), que classifica a qualidade em cinco categorias: ótima, boa, regular, ruim e péssima (saiba mais no final da reportagem).
Orla turística de Barra Bonita, às margens do Rio Tietê
Prefeitura de Barra Bonita/Divulgação
Nenhum dos rios analisados atingiu a classificação ótima. Apenas 7,6% foram classificados como bons, 75% como regulares, 13,8% como ruins e 3,4% como péssimos.
Em entrevista à TV TEM, Gustavo Veronesi, coordenador da causa, explicou que, embora o resultado regular possa parecer satisfatório, ele exige monitoramento e atenção, pois está mais próximo da classificação ruim do que das superiores.
“Em um primeiro momento, pode parecer que é uma coisa legal, uma coisa boa; o regular está quase bom. Mas, em se tratando de rios e sabendo que poluir um rio é muito mais rápido do que despoluí-lo, ficamos em alerta, pois o regular, por um descuido ou descaso, pode voltar a ter uma qualidade ruim novamente”, explica.
Ainda segundo o especialista, a baixa qualidade das águas se deve em grande parte à falta de saneamento básico.
“Quase metade da população brasileira ainda não tem acesso ao que consideramos um serviço básico, o saneamento básico. Como muitos dos nossos pontos de análise estão em áreas urbanas, esse é um fator fundamental. No entanto, outros aspectos também contribuem para essa situação, como o uso excessivo de fertilizantes, especialmente o uso de agrotóxicos nas lavouras, a falta de proteção das nascentes dos rios e a ausência de cuidados com as matas ciliares, as vegetações localizadas nas margens dos rios”, comenta Gustavo.
Os reflexos da baixa qualidade da água já são visíveis. Desde o início de março, um extenso tapete verde formou-se sobre o Rio Tietê, principalmente nas proximidades da eclusa da barragem de Barra Bonita, cobrindo cerca de seis quilômetros com aguapés — plantas aquáticas que têm prejudicado o turismo e a economia da região.
Calor provoca aumento de plantas aquáticas no rio Tietê, em SP
Os pontos avaliados pelos relatórios da SOS Mata Atlântica são selecionados de acordo com a disponibilidade de informações fornecidas por entidades parceiras do projeto. Como resultado, há locais onde a qualidade da água é precária, mas que não são incluídos na avaliação.
Um exemplo disso é Sabino (SP), também no centro-oeste paulista. O município possui estrutura turística voltada para a prainha da cidade, onde um braço do Rio Tietê banha a região. No entanto, a baixa qualidade da água levou a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) a classificar o local como impróprio para banho.
Com pouco mais de 5 mil habitantes, Sabino tem sua economia baseada no comércio e no turismo aquático, especialmente voltado para a prainha. A classificação negativa da água impactou diretamente a cidade, que enfrenta dificuldades pela ausência de turistas.
Proliferação de algas deixou água do Rio Tietê em Sabino (SP) completamente verde
Reprodução/TV TEM
A água do local está visivelmente esverdeada. O secretário de Meio Ambiente do município, Luís Eduardo Golçalves, explica que o problema é causado pela alta concentração de nutrientes e material orgânico na água.
“Esse rio está carregado com muitos nutrientes, o que favorece o crescimento excessivo de algas. Elas crescem muito rápido, morrem rapidamente, e isso resulta no que estamos vendo”, explicou à TV TEM.
Ele também conta que já foi feita uma solicitação judicial para que seja elaborado um projeto de limpeza e recuperação da qualidade da água no local.
Classificação nacional dos rios
Ao comparar os dados de 127 pontos monitorados tanto em 2023 quanto em 2024, observa-se uma leve piora na média da qualidade da água:
11 pontos foram classificados como bons, contra 10 em 2023;
96 mantiveram-se regulares, eram 101 no ano anterior;
16 foram considerados ruins, em comparação com 12 em 2023;
4 permaneceram péssimos, nos mesmos locais do ano anterior.
Apesar desse cenário preocupante, 83,8% dos pontos analisados ainda possuem condições para usos múltiplos da água, como agricultura, indústria, abastecimento humano, dessedentação animal, lazer e esportes.
Qualidade da água dos rios da Mata Atlântica
Arte/g1
Entenda o IQA
O Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias: ótima, boa, regular, ruim e péssima. Entenda abaixo:
Rios com qualidade ótima ou boa: contam com condições adequadas para abastecimento, produção de alimentos e vida aquática equilibrada;
Rios com qualidade regular: apresentam impactos ambientais que podem comprometer seu uso para consumo ou lazer;
Rios com qualidade ruim ou péssima: a poluição atinge níveis críticos, prejudicando tanto a biodiversidade quanto a população que depende desses recursos hídricos e a saúde pública.
Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias
Arte/g1
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