
Projeto, que será lançado neste sábado (12) , reúne fotografias históricas e vivências de moradores da CDHU durante o período de desocupação do conjunto habitacional. Fotógrafo lança projeto com com exposição de fotos de moradores do CDHU de Marília
Marcelo Sampaio/Reprodução
Há quatro anos, um fotógrafo e cientista social de Marília (SP) foi motivado pelas más condições de moradia dos moradores do Conjunto Habitacional Paulo Lúcio Nogueira, conhecido como prédios da CDHU, divulgadas pela imprensa, a quebrar um estigma da cidade: o de que aquele lugar era perigoso.
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Seu objetivo era entender quem eram as pessoas que viviam ali, num local que, segundo engenheiros e perícias, corria risco de desabar a qualquer momento.
As visitas e entrevistas com os moradores resultaram em um trabalho hipermídia que começa com uma exposição de fotos, com abertura marcada para às 16h deste sábado (12), na Galeria de Artes de Marília (SP).
O projeto se desdobra ainda em publicações nas redes sociais com a história por trás de cada imagem, e culmina em um documentário que será exibido na estreia da exposição. (Saiba mais ao final da reportagem.)
Em entrevista ao g1, o fotógrafo Marcelo Sampaio, de 51 anos, com mais de duas décadas de carreira, contou que o interesse pelo local começou quando surgiram as primeiras notícias sobre as condições precárias de moradia.
“Eu comecei a visitar a CDHU e a conversar com as pessoas de lá, sem aquele preconceito que tinha na cidade e tem ainda hoje, de que lá na CDHU é perigoso porque mora traficante, essas coisas todas. Um grande preconceito, um grande estereótipo que se construiu em torno dos moradores lá, um grande estigma”, lembra.
Fotógrafo lança projeto com com exposição de fotos de moradores do CDHU de Marília
Marcelo Sampaio/Reprodução
“Eu visitei, conversei com várias famílias e escutei as suas histórias: histórias da CDHU, histórias de quando chegaram, o que viveram lá, como era importante a CDHU, quais os problemas que eles enfrentavam lá, enfim”, completa.
A formação em Ciências Sociais permitiu ao fotógrafo enxergar as pessoas por trás da situação. Dessa escuta e convivência, nasceram as fotos que compõem o trabalho.
“Eu expliquei qual era a natureza do trabalho, expliquei qual era o objetivo da fotografia, e que a realidade delas muito me preocupava, e que eu sou um fotógrafo que me limita em favor da fotografia ser um instrumento político, de conscientização dos problemas enfrentados pelos cidadãos aqui na cidade de Marília, pelos seres humanos”, conta.
Com os primeiros registros de algumas famílias, a iniciativa passou a repercutir entre os moradores. Em pouco tempo, foram os próprios moradores que começaram a procurar Marcelo, querendo fazer parte do projeto.
“Essas pessoas querem contar as histórias delas. Elas são seres humanos invisíveis na imprensa mais comum de Marília. Porque ali se criou um estereótipo de que na CDHU há criminalidade, uma favela vertical. Eu percebi que essas pessoas estavam invisíveis”, explica.
Trabalho com catadores
A exposição de Marcelo Sampaio também contará com outro projeto inédito, chamado “Catadores”, feito com trabalhadores da coleta de materiais recicláveis.
O fotógrafo explica que utilizou o mesmo método de abordagem: escuta, convivência e respeito pelo tempo de cada retratado.
“Eu os acompanhei por um tempo, fiz o mesmo método, conversei com eles, os ouvi bastante, e consegui fotografar aqueles que me deixaram fotografar. Inclusive, consegui ter acesso à casa de duas ou três famílias desses catadores e permaneci com eles por mais tempo, ouvindo-os. Minha fotografia é o resultado dessa convivência. Por isso que ela é chamada de fotografia de compromisso social, porque tem esse método e objetivo.”
Trabalho engloba também fotos com catadores de recicláveis
Marcelo Sampaio/Reprodução
O reflexivo do preto e branco
Marcelo trabalha, principalmente, com fotografias em preto e branco. A escolha estética está diretamente relacionada ao objetivo de destacar o conteúdo humano e social das imagens.
“Muitos fotógrafos acreditam que a cor desvia a atenção do essencial. A cor parasita o acontecimento. Você acaba acessando aspectos mais profundos do fenômeno, aspectos que estão escondidos atrás das cores”, finaliza.
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Desocupação do CDHU
Após várias decisões da Justiça, entre junho e julho de 2024, todo o conjunto habitacional foi desocupado devido às más condições de conservação. A Prefeitura e a CDHU ficaram responsáveis por pagar um aluguel social às famílias que ficaram sem moradia após a remoção. Algumas foram abrigadas em casas de parentes.
À época, foi determinado um aluguel social no valor de R$ 600, além de um auxílio-mudança também no valor de R$ 600. Posteriormente, esse valor foi reajustado para R$ 1 mil.
Prefeitura de Marília e CDHU foram questionados a respeito da interdição
Fábio Modesto/TV TEM
Exposição na Galeria de Artes de Marília
A exposição será inaugurada neste sábado (12), às 16h, na Galeria de Artes de Marília (SP), com exibição simultânea do documentário (assista ao teaser abaixo).
Fotógrafo lança projeto com com exposição de fotos de moradores do CDHU de Marília
Após a abertura, a galeria funcionará de segunda a sexta, das 9h às 17h, e aos sábados, das 13h às 18h. O trabalho completo de Marcelo Sampaio também pode ser conferido nas redes sociais do projeto Luzes de Marília.
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