Dia da Dança: bailarinas do interior de SP conquistam bolsas em renomadas escolas e sonham em viver da arte


Dia Internacional da Dança é comemorado neste sábado (29) e para marcar a data, o g1 conta a história de três bailarinas de Bauru (SP) que buscam a meta de viver apenas do talento nos palcos. O Dia Internacional da Dança é comemorado neste sábado (29). Além dos benefícios para a saúde mental e física que a dança leva para quem a pratica, essa arte tem o poder de captar e transmitir traços particulares de diversas culturas por meio dos movimentos que obedecem a música.
Com o objetivo de tornar o talento nessa arte em uma profissão, três bailarinas de Bauru, no interior de São Paulo, sonham em viver apenas da dança. Duas delas conquistaram bolsas para estudar em renomadas escolas na capital e a outra se mudou para a Irlanda com o intuito de se profissionalizar e lecionar a modalidade artística para crianças.
A dança traz a compreensão das dimensões do corpo e das manifestações culturais. Tanto que, existem diversos estilos, sejam clássicos ou contemporâneos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a data de 29 de abril foi escolhida em 1982 pelo Comitê Internacional da Dança da Unesco e pelo Instituto Internacional do Teatro, em comemoração ao aniversário de Jean-Georges Noverre, considerado o criador do balé moderno.
Giovanna Gomes Pereira começou o balé aos 4 anos e, hoje, aos 21, dança profissionalmente em grandes escolas
Arquivo Pessoal/ Arte g1
Entre os admiradores dessa arte, está a bailarina de Bauru (SP), Giovanna Gomes Pereira. Segundo ela contou ao g1, aos quatro anos iniciou os trabalhos na dança clássica. A criança que não gostava de balé virou bailarina profissional.
São movimentos construídos em 17 anos dançando. Hoje, com 21, Giovanna não hesita ao afirmar que a paixão pelos passos a guiou na carreira. Tanto que, conquistou duas bolsas para estudar a dança em grandes escolas de São Paulo.
Giovanna Gomes Pereira começou o balé aos 4 anos e, hoje, aos 21, dança profissionalmente
Giovanna Gomes Pereira /Arquivo pessoal
“Comecei aos 4 anos, como um hobbie mesmo, vinha para fazer aula aqui na escola em Bauru e me apaixonei por isso. É uma profissão muito difícil, é desafiador, e a gente quer lutar por aquilo. No começo do ano, prestei o curso e passei em duas escolas de dança”, comenta.
Foi com o coração apertado, mas sorriso no rosto, que Giovanna se mudou, em janeiro deste ano, para a capital em busca de melhores oportunidades na profissão.
Foi com o coração apertado, mas sorriso no rosto, que Giovanna Gomes Pereira se mudou para São Paulo
Giovanna Gomes Pereira /Arquivo pessoal
Para ela, o dia 29 de abril tem um significado especial. É a data para lembrar como a arte traz alegria e leveza para a vida de tantas pessoas.
“A minha vida é dançar, é isso que eu quero para mim. Dança é amor. É isso que move a vontade de dançar. Era um sonho meu e trabalhei muito para isso. E isso é só o começo”, garante.
Estudante e bailarina de Bauru, Clara Bonifácio da Silva, também conquistou uma bolsa para estudar em uma escola renomada de dança
Arquivo pessoal /Arte g1
A estudante e bailarina de Bauru, Clara Bonifácio da Silva, também conquistou uma bolsa para estudar em uma escola renomada de dança em São Paulo.
Aos 17 anos, Clara já havia estruturado um projeto pessoal de ir à capital no próximo ano em busca do sonho. Só não esperava que conquistaria seu lugar entre grandes bailarinos tão cedo.
Humildade. Essa palavra foi escolhida por Clara para reconhecer que estava em uma audição com diversos outros talentos. Dessa forma, a bauruense lembra que se esforçou para desempenhar bem na aula.
estudante e bailarina de Bauru, Clara Bonifácio da Silva, também conquistou uma bolsa para estudar em uma escola renomada de dança
Fabiana Vitta /Arquivo pessoal
“Para mim foi uma surpresa e tanto, principalmente porque estava entre as mais novas em uma audição, com pessoas melhores que eu, mais velhas e maduras. Quando recebi a notícia que passei fiquei 110% em êxtase”, comemora.
Enquanto bailarina, Clara elencou as principais dificuldades que enxerga em seguir nessa profissão no Brasil, em específico em relação ao apoio à cultura.
“Poucas companhias são patrocinadas, não temos apoio do governo. Espero que agora os tempos mudem e que o sol nasça cada vez mais para nós. Os artistas ralam muito e não são bem pagos. É frustrante”, lamenta.
Estudante e bailarina de Bauru, Clara Bonifácio da Silva, também conquistou uma bolsa para estudar em uma escola renomada de dança
Clara Bonifácio da Silva /Arquivo pessoal
Em relação aos planos futuros, Clara não pensou duas vezes para responder: conseguir trazer mais bagagem corporal, mental e espiritual para a dança. Ser primeira bailarina de teatros municipais também está na lista.
“Acho que vai demorar um tempo um pouco longo para eu me ver dando aulas de dança, primeiro quero explorar tudo o que esse mundo cheio de movimentos, emoções e sensações tem para me oferecer”, pontua.
Estudante e bailarina de Bauru, Clara Bonifácio da Silva, também conquistou uma bolsa para estudar em uma escola renomada de dança
Clara Bonifácio da Silva /Arquivo pessoal
O talento é indiscutível. Mas, na dança nada acontece sem disciplina e insistência. A dança é uma forma de arte que não se trabalha sozinha. São necessárias várias mãos – e pés – de professores e colegas de elenco para chegar ao produto final ideal.
No caso de Giovanna e Clara, a professora de jazz e balé clássico de Bauru, Karen Teixeira, de 49 anos, é uma das responsáveis pelos seus sucessos pessoais. Isso porque, a profissional acompanhou de perto a evolução das alunas.
Professora de jazz e balé clássico de Bauru, Karen Teixeira, é a responsável pelo talento pessoal de seus alunos
Karen Teixeira /Arquivo pessoal
“A Giovanna, por exemplo, entrou na escola com 4 anos, teve uma evolução como qualquer aluno e foram surgindo as diferenças, dos que se interessam, os que não faltam, os que se dedicam. Ela foi cumprindo as etapas, que na dança são infinitas. Foi uma dedicação de uma vida, por gostar, ela eliminava os desafios. Ela não nasceu uma estrela, trabalhou para chegar onde chegou”, relembra.
Karen também é bailarina. Assim como para as aulas, o Dia da Dança é marcado pela reflexão do seu papel enquanto artista em um país que, por muitas vezes, “vira as costas” para a cultura. Dança, segundo Karen, é ser inteiro, uma união do sentimento com o movimento. “Vem de dentro. A dança, para qualquer bailarino, é a verdade dele por completo”, reflete.
Professora de jazz e balé clássico de Bauru, Karen Teixeira, é a responsável pelo talento pessoal de seus alunos
Karen Teixeira /Arquivo pessoal
Fora do Brasil
Pela dificuldade em conseguir obter reconhecimento no que fazem, bem como elaborar um plano de carreira no Brasil, muitos bailarinos preferem exercer a profissão em outros países.
É caso da bailarina e professora Mariela Mira. Dor é um sentimento que ela conhece. Quando torceu o pé, dançou no dia seguinte mesmo lesionada. A bauruense sempre se esforçou para estar aonde chegou: na Irlanda.
Mariela Mira saiu de Bauru para se tornar professora e bailarina na Irlanda
Joabe Guaranha /Arquivo pessoal
“Eu comecei há 13 anos em Bauru, onde participei do processo seletivo para a Companhia Estável de Dança e passei. Foi ali que iniciei minha vida profissional na dança”, comenta.
Mariela está na Irlanda há oito meses, onde leciona a dança para mais de 30 crianças. Lá adquiriu conhecimentos que garante levar para a vida pessoal e carreira. Mais do que ensinar a dança, a professora busca transmitir a essência e sensibilidade da arte.
“A Mariela professora é metade rígida metade recíproca, que se coloca no lugar dos alunos e que tem algo a mais a oferecer. Dançar é uma missão, esse é meu propósito e deve ser muito bem feito. A Mariela na dança é 101%”, destaca.
Mariela Mira saiu de Bauru para se tornar professora e bailarina na Irlanda
Mariela Mira /Arquivo pessoal
Os primeiros espacates e pliés, movimentos do balé, foram em Bauru. Ela passou pelas aulas do Sivaldo Camargo, professor no Teatro Municipal e diretor da Companhia Estável de Dança, que, em 2022, completou 10 anos.
Sivaldo dá aulas para 16 bailarinos entre 14 e 21 anos, que ganham a bolsa da prefeitura. O coreógrafo é referência para aqueles que “respiram arte”. Ao g1, o diretor contou que a ideia de criar o projeto nasceu do desejo de levar musicalidade e ritmo aos palcos dos teatros de Bauru. A iniciativa foi concretizada em 2012.
Mariela Mira saiu de Bauru, onde dançava, para a Irlanda com o intuito de se profissionalizar
Mariela Mira /Arquivo pessoal
Ansioso por apresentações após ter conseguido o alvará para o funcionamento da companhia, Silvado só precisou de quatro meses para a estreia dos bailarinos com o espetáculo anunciado em setembro daquele ano.
De um simples esboço aos dez anos de uma companhia conhecida em toda a região de Bauru, o diretor sabe reconhecer potenciais talentos.
Companhia Estável de Dança de Bauru apresenta o espetáculo “Morte e Vida Severina”
Companhia Estável de Dança de Bauru /Divulgação
“É uma grande satisfação ver muita gente com o foco de ser um bailarino profissional. Esforço na dança supera o talento. São uma séria de fatores necessários para ter a técnica no balé.”
A cada aula, ministrada com a mesma metodologia de quando a companhia foi criada, o diretor garante que passa aos alunos duas principais lições para aqueles que querem ser bailarinos profissionais: dedicação e disciplina.
“Ser bailarino não é fazer pirueta, levantar a perna alta. Ser bailarino é ter postura. A primeira coisa para isso é a disciplina, ter noção de que estão participando de uma atividade coletiva, na qual você depende do outro, então deve confiar nele. É um trabalho de equipe, isso deve fazer parte de cada bailarino. Mas cada um fazer sua parte também é importante”, garante.
Professor e coreógrafo na Companhia Estável de Dança de Bauru, Sivaldo Camargo
Gabriel Sato /TV TEM
5, 6, 7, 8….
Dançar é também fazer contas. Existe uma conexão essencial entre música e dança. Ela fornece o pulso fundamental, o ritmo e a contagem que indicam onde o bailarino deve estar em determinados momentos na coreografia.
Quando a melodia e harmonia combinam ritmo e contagem, a música oferece informações e orientações abundantes para o bailarino. É o que revela o coreógrafo Jhean Allex, referência no jazz.
“O trabalho em conjunto é quase uma arquitetura, é você criar um projeto, desenhos, formas e fórmulas de forma agregada. Existe uma matemática por traz da dança. É a somatória de um mais um que não vira dois, mas cem. É colocar com precisão os bailarinos em cena”, propõe.
Coreógrafo Jhean Allex, referência no jazz
Marcos Previdello /TV TEM
O ritmo da dança na vida real pode ser cruel. Difícil encontrar um bailarino que não precisou fazer renúncias. É o caso do bailarino e professor de jazz, Fábio Silva Merlin que abdicou de um casamento para estar em uma competição.
“Todo trabalho exige da gente, é exaustivo, mas a gente sempre pensa que o resultado é muito mais importante. E quando a gente chega no resultado é muito prazeroso. Eu sempre escolho a dança”, ressalta.
Fábio Silva Merlin é bailarino e coreógrafo em Bauru
Fábio Silva Merlin /Arquivo pessoal
Dançar, para Fábio, é a forma que a alma escolheu para comunicar, quando a voz cala e o corpo fala. Por isso, na visão dele, ensinar a dançar é mostrar aos alunos uma nova maneira de comunicação.
“Acredito que a dança tem esse lugar de fala do que às vezes não conseguimos expressar em palavras. Todos os dias, é um poema diferente”, destaca.
Fábio Merlin é professor e bailarino em Bauru
Fábio Merlin /Arquivo pessoal
Assim como ele, Clara lembra que também precisou abdicar de algumas vontades em prol da dança. Entre elas, o conforto de casa, os pais, os amigos.
“Quando cheguei aqui em SP tudo mudou, não tenho mais meus pais todos os dias, tenho que resolver minha comida, lavar a minha roupa. Não que seja ruim, só é diferente, é uma nova adaptação. Estou amadurecendo. A saudade é o pior, mas sei que meus pais estão comigo a cada passo”, reflete.
Ao g1, Clara explicou que não se vê mais sem a dança.
“Dançar é minha vida, meu refúgio, minha alegria. É onde expresso minha emoções e me conecto com algo maior”, finaliza.
Saúde física
Escolhas difíceis, dores intensas. Dançar também é estar entre a graça e a dor causada pelo esforço, repetições e lesões. Com 40 anos de palcos, a fisioterapeuta e bailarina de Bauru, Karina Dias, resolveu estudar a mecânica dos corpos que fazem piruetas no ar e aterrissam com leveza.
Karina Dias é fisioterapeuta e bailarina em Bauru
Karina Dias /Arquivo pessoal
Karina contou ao g1 que fraturou o menisco, duas estruturas internas no joelho, e precisou ir até Ribeirão Preto (SP) para o tratamento quando tinha 16 anos.
“Estava no auge na carreira de bailarina e eu tive uma lesão bem importante. Comecei a fazer fisioterapia e fiquei encantada porque foi ela que permitiu que eu voltasse a dançar. Muita gente não sabe o esforço que um bailarino faz”, pontua.
Diferente de um atleta que pode mostrar, por meio das expressões, os momentos de dor e fraqueza, um bailarino, conforme Karina reforça, precisa escondê-las e apenas apresentar aquelas que rementem a leveza e tranquilidade.
A fisioterapeuta de Bauru, Karina Dias, explica que o bailarino precisa mover todos os 650 músculos do corpo para dançar
Karina Dias /Arquivo pessoal
Segundo Karina, um bailarino precisa mover todos os 650 músculos, mesmo nos movimentos mais simples e elementares.
“A gente sempre leva o corpo ao limite como bailarino. E aí entra a fisioterapia. A gente não quer ouvir que não pode mais dançar, então preciso saber como resolver o problema do meu paciente.”
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