Fisioterapeuta que perdeu perna cria projeto com sessões para amputados e busca próteses para pacientes: ‘Não podemos parar’


Matheus Bermejo Andreo, morador de Bauru (SP), perdeu a perna esquerda em um acidente de moto em 2020. Desde então, ele criou um projeto para atender amputados de baixa renda. Fisioterapeuta de Bauru (SP) iniciou projeto para pessoas amputadas
TV TEM/Reprodução
As inseguranças e dificuldades de quem perdeu um membro do corpo muitas vezes podem paralisar a vida de uma pessoa. Mas esse não foi o caso de um fisioterapeuta, que resolveu fazer da sua vivência pessoal e profissional um modo de ajudar pessoas que estão passando pelo trauma da amputação.
O fisioterapeuta Matheus Bermejo Andreo, morador de Bauru (SP), perdeu a perna esquerda em um acidente de moto em 2020. “A amputação foi no local”, relembra.
O que poderia ser o impedimento para diversas atividades, na verdade, foi o começo de uma nova vida. Matheus passou a fazer parte de um grupo de cerca de 1 milhão de pessoas no Brasil, segundo o IBGE, que vivem com algum tipo de amputação.
Essa parcela da população, assim como qualquer outro cidadão, também precisa de respeito, acessibilidade e inclusão. E foi pensando nisso que Matheus resolveu dar início ao projeto “Anjos sem Pernas”, ainda em 2020.
É através dele que Matheus atende outros amputados com sessões de fisioterapia, além de arrecadar dinheiro para próteses por meio de rifas, brindes e vaquinhas. Para além do cuidado médico, a empatia pela condição é o que aproxima o fisioterapeuta dos pacientes.
“Por ser fisioterapeuta, eu tenho essas informações. Eu já sabia o caminho, mas imaginei como seria para pessoas que não têm esse tipo de informação”, conta.
“Eu acho que o fisioterapeuta amputado falar para um paciente amputado sobre a possibilidade de dar certo, que você sabe o que ele está passando, é muito mais fiel”, complementa.
Fisioterapeuta promove atendimento a pessoas amputadas em Bauru
Matheus congela a própria escala de trabalho e reserva as segundas-feiras para atender amputados de baixa renda. O valor simbólico de R$ 20 por sessão é revertido no próprio projeto para compra de próteses para os pacientes e equipamentos que ajudem na reabilitação.
O policial penal Leonardo Matheus Bellai Alves é um dos beneficiários do programa. Ele e o pai foram atropelados em setembro de 2022 às margens de uma rodovia. Além de perder o pai no acidente, Leonardo precisou aprender a viver a vida sem as duas pernas.
“Lembro que no momento em que o médico me contou: ‘Léo, você sofreu um acidente, você lembra alguma coisa?’ E eu falei que não lembrava de nada. Ele disse que infelizmente para salvar a minha vida, tiveram que amputar as pernas. O termo ‘salvar sua vida’ foi algo no qual eu me agarrei. Foi aí que eu me liguei: ‘Opa, estou vivo’”, relembra o policial.
O processo para Leonardo, que envolveu não apenas a recuperação física, mas também o acompanhamento psicológico em virtude da nova condição e do luto pela perda paternal, teve no projeto uma forma de continuar em movimento.
“Eu me sinto melhor na mobilidade no que sobrou da perna, a questão das transferências, consigo ir no banheiro, já que no começo eu precisava de ajuda pra tudo. Psicologicamente tem me ajudado muito também”, relata.
O policial Leonardo encontrou no projeto Anjos sem Pernas uma forma de melhorar a reabilitação após a amputação
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Em pleno Abril Laranja, mês de conscientização da amputação, o fisioterapeuta Matheus espera que o projeto consiga novos recursos para que o medo da dependência funcional enfrentado por muitos pacientes não impeça a reabilitação.
“A perda de um membro pode gerar uma série de problemas psicológicos. O nosso objetivo é ganhar vidas e estamos aqui para ajudá-los ao máximo na reabilitação”, diz.
“O sonho é que o projeto chegue a um nível de captar verbas estaduais, federais. O grande problema hoje do nosso projeto são realmente as próteses dos pacientes que chegam pra mim. São muitas vezes simples, sem recursos e isso dificulta muito o processo de reabilitação. Queremos comprar próteses boas para os pacientes para ajudá-los na qualidade de vida. Não podemos parar”, complementa.
Matheus cobra um valor simbólico para pacientes amputados
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Fisioterapia para amputados
A fisioterapia ocorre em dois períodos distintos: na pré e pós-protetização. Na fase pré-protetização, o coto é o centro das atenções. Neste momento, há um cuidado especial com o coto do paciente, pois é preciso prepará-lo para receber a prótese.
Os trabalhos incluem a cicatrização, dessensibilização, higienização, além do enfaixamento correto. O tempo de recuperação, por sua vez, é muito variável e, segundo o fisioterapeuta Matheus, “tem muita relação com o estado geral do paciente”.
No entanto, independentemente das características clínicas, além de preparar o coto para a prótese ortopédica, o principal objetivo da fisioterapia pré-protetização é estimular o metabolismo do paciente e reduzir possíveis edemas.
Já o objetivo da fase pós-protetização é treinar os membros corporais que não foram estimulados no acompanhamento anterior, exercitando principalmente o equilíbrio e a força do amputado.
Fisioterapeuta Matheus Bermejo Andreo é responsável por projeto ‘Anjos sem Pernas’
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