Catadora de recicláveis idealiza sala de estudos improvisada para ajudar na alfabetização de crianças em Bauru


Nesta sexta-feira (8) é celebrado o ‘Dia da Alfabetização’ e o g1 conta a história da Rose, que montou nos fundos de sua casa uma sala de estudos para as crianças da comunidade onde mora. Rosemeire e sua neta, Yasmin, que também participa das aulas colaborativas
Rose: uma história de esperança/ Reprodução
Nesta sexta-feira (8) é celebrado o ‘Dia da Alfabetização’, a data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e comemorada pela 1ª vez em 1967.
Em um Brasil onde, segundo o Ministério da Educação, apenas 4 em cada 10 crianças do 2º ano do Ensino Fundamental estão alfabetizadas, uma moradora de Bauru (SP) viu nas suas mãos o dever de agir quando suas netas não estavam progredindo nos estudos e criou uma sala de estudos, onde hoje ela ajuda crianças da comunidade onde mora na fase da alfabetização.
Rosemeire Ignácio Pedro, a Dona Rose, de 59 anos, é moradora do bairro Fortunato Rocha Lima, na região conhecida como Piquete 1, comunidade da periferia da cidade. Há 4 anos ela disponibiliza para as crianças que moram na região, livros, jogos e até aulas para ajudar no desempenho escolar.
“Já faz uns 4 anos que eu comecei, devido aos meus netos. Hoje em dia, a criança tá no quinto, sexto, sétimo ano e não sabe ler nada. Pode até ler, mas sem interpretação, não sabe letra cursiva. Então eu resolvi abrir uma biblioteca para ajudar o pessoal da minha comunidade. Aqui tem muita criança que fica na rua, os pais estão trabalhando, então eu tomei essa iniciativa.”, explica Dona Rose.
Rosemeire é catadora de recicláveis e construiu boa parte da, como ficou conhecida, ‘Biblioteca do Piquete’, com materiais que recolhia.
O acervo da biblioteca, que inicialmente era composto apenas pelos livros escolares de anos anteriores de seus netos, hoje conta com livros de matemática, história e até ciências sociais, segundo a idealizadora.
Dia da Alfabetização: Moradora de periferia de Bauru idealiza sala de estudos improvisada para atender crianças do bairro
Arquivo Pessoal
Dona Rosemeire estudou até a 5ª série do ensino fundamenta, dali em diante estudou por conta própria. Em seu projeto, juntou a ânsia de aprender com o amor por crianças, que sempre foi uma marca dela.
“É uma coisa que vem de lá de trás. Eu sempre gostei de criança, eu tenho meus filhos que também adoram crianças, eles chegam e as crianças ficam doidas.”
Diferença na comunidade
Com o tempo, a ‘Biblioteca do Piquete’ passou a ficar cada vez mais frequentada pelas crianças da comunidade, durante o contra turno escolar.
Com a ajuda de outros moradores, Rosemeire construiu um banheiro e uma cozinha para uso de seus alunos. Além das aulas, passaram a oferecer um pequeno lanche às crianças que trocavam as ruas pelos livros na Biblioteca do Piquete. Em datas especiais, os filhos e netos da Dona Rose também se reúnem para organizar festas e almoços para as crianças, além da doação de alimentos para as famílias que necessitam.
“Aqui eles vem, eles tomam café, a gente dá atenção. Tem mãe que às vezes nem tem o que dar de comer para o filho. Então quando eu ganho leite, macarrão, bolacha, e eu sempre trago aqui para distribuir para as crianças.”
Os frutos dos ensinamentos e atenção de Dona Rose com as crianças do piquete já são colhidos. A própria neta de Rosemeire, que inspirou a criação do projeto, já dá passos largos na escolaridade.
“A minha neta ela não sabia ler nada com 8 anos, ia à escola e não conseguia desenvolver. Ai quando eu comecei com a biblioteca, ela aprendeu a escrever, aprendeu a tabuada. Hoje ela tá com 10 anos e está bem, desenvolvendo e continua participando das minhas aulas aqui.”
O projeto de Rosemeire foi inspirado em sua neta, que passava por dificuldades na alfabetização
Reprodução/Rose: uma história de esperança
O espaço também não é aberto exclusivamente para crianças e pré-adolescentes, apesar deles serem os maiores frequentadores da biblioteca, segundo Dona Rose.
“Não tem idade, desde os pequenininhos até gente de idade. Teve uma senhora que veio aqui que ela não sabia escrever o nome e aprendeu aqui. É muito emocionante.”
Futuramente, o maior desejo de Rosemeire é melhorar a estrutura física da sua sala de aula para aumentar o leque de serviços às crianças que atende.
“Eu espero que a gente tenha um lugar um pouco mais aconchegante, onde as crianças possam brincar, e poder dar mais atenção para as crianças menores. Tem crianças de um, dois anos, que não consegue vaga na creche e vem aqui.”
Reconhecimento
Em março de 2022, Rosemeire recebeu uma moção de aplausos na Câmara de Bauru pelos trabalhos realizados com a comunidade carente da cidade.
Rosemeire recebeu uma moção de aplausos na Câmara Municipal de Bauru (SP) pelos trabalhos comas crianças da comunidade do Piquete
Pedro Romualdo
Já em novembro do mesmo ano, a biblioteca de dona Rose foi pauta de uma fotorreportagem produzida por alunas de jornalismo de Bauru (SP). Ana Paula Batista, Andressa Santana e Larissa Fontanezzi contaram a história inspiradora de Dona Rose por meio de fotos que refletiram a simplicidade do local, mas também a dedicação da moradora com seu trabalho.
“Em nenhum momento a gente quis romantizar a situação dela. A gente queria mostrar a diferença que ela faz na vida da comunidade, nas vidas de outras pessoas, mesmo sem muitas condições”, conta Ana Paula Batista.
O produto final foi vencedor do prêmio EXPOCOM Sudeste 2023, que reúne trabalhos produzidos por estudantes de jornalismo da região sudeste. Nesta sexta-feira (8) a fotorreportagem concorre na fase nacional do concurso com estudantes do Brasil inteiro.
Alunas de jornalismo recebem prêmio por fotorreportagem contando a história de Rosemeire
Arquivo pessoal
Confira as fotos premiadas:
Catadora de recicláveis idealiza sala de estudos para crianças da periferia no interior de SP
*Colaborou sob a supervisão de Mariana Bonora
Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília
VÍDEOS: assista às reportagens da região

Adicionar aos favoritos o Link permanente.