Em Bauru, Rita Lee conheceu palavra que inspirou último disco com Os Mutantes: ‘Baurets’


Inventada durante encontro do grupo com Tim Maia em festival de rock em Bauru (SP), gíria ‘bauret’ foi eternizada no disco “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets”, lançado em maio de 1972. Expressão faz menção à cidade paulista e à maconha. Rita Lee em foto de novembro de 1967, quando era vocalista do grupo Os Mutantes
Ivo Barreti/Estadão Conteúdo/Arquivo
Bauru (SP) serviu como inspiração para o nome do último álbum d’Os Mutantes com Rita Lee nos vocais. Lançado em maio de 1972, “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets” foi responsável por eternizar a expressão bauret, que faz referência à cidade do interior de São Paulo – e à maconha.
A cantora, considerada a rainha do rock brasileiro, morreu na noite de segunda-feira (8), aos 75 anos, em São Paulo. Ela tratava um câncer no pulmão desde 2021.
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A história da gíria foi contada por Rita em sua autobiografia, publicada em novembro de 2016. No capítulo “Recuerdos”, em que a artista revisitou memórias dos shows com Os Mutantes – onde foi vocalista entre 1966 e 1972 -, ela detalhou o nascimento da expressão.
Bauru (SP) foi inspiração para nome de último álbum de Rita Lee com Os Mutantes: ‘Baurets’
Divulgação/Polydor/Alain Voss
Segundo o relato, tudo começou nos bastidores de um festival de rock em Bauru em que, além do grupo, uma das atrações era Tim Maia, o verdadeiro inventor, de acordo com Rita, da palavra “baurets”.
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“Dividimos o camarim com ele e banda. Todo mundo ali fazendo o [estilo] comportadinho sob o olhar de um par de meganhas que dava plantão nos bastidores do evento. Camarim secura total. De repente, Tim começa a gritar: ‘Porra, aqui é a terra do bauru, alguém vai ter que me comprar um bauru. Tô com fome. Não entro no palco se não rolar um bauru!’”, contou.
Depois das reclamações, a produção entrou no camarim preocupada com os gritos, segundo Rita. Tim continuou: “‘Eu só canto se me descolarem um bauru, entendeu? Bauru! Baurets! Eu quero um baurets, sacou? Baurets!’”.
“Sim, a produção ‘sacou’ perfeitamente. A solução foi dar uma grana para os dois meganhas com a missão de comprar o famoso sanduíche antes que a apresentação daquela noite fosse para o brejo”, relembrou.
“‘Ni qui’ a rapaziada de uniforme saiu, a rapeize do beise deitou e rolou. Naquele momento histórico, a cannabis foi oficialmente batizada nos meios artísticos de baurets.”
Rita Lee em foto de Roberto de Carvalho
Reprodução/Instagram/RitaLee
Apesar da riqueza de detalhes, a versão de Rita é confrontada por Nelson Motta na biografia do músico carioca “Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia”, lançada nove anos antes, em novembro de 2007. Na publicação, o autor diz que a gíria não foi criada no camarim, mas no palco, durante o show.
“Todo mundo louco para dar um tapinha antes do show e Tim esquecera os baseados. A fissura era tanta que, no meio do show, no meio da música, Tim perguntou o público: ‘Aqui não é a terra daquele sanduíche esperto, o bauru? Pois é, o ‘B’ é muito bom mas eu estava querendo mesmo era um… bauruzinho, um baurete, implorava, fazendo o gesto de ‘empinar pipa’ com a mão para a plateia perplexa”, conta.
“Ninguém entendeu nada, mas depois do show apareceu um hippie doidão e conseguiu seu baseado, consagrando a palavra baurete, que seria um clássico do seu vocabulário”, diz a publicação.
As passagens não mencionam onde e quando a história aconteceu. Fato é que, 51 anos depois, a gíria ainda continua presente no imaginário popular.
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Rita e Os Mutantes
Apresentação do grupo ‘Os Mutantes’, em 1969
Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
Junto dos Mutantes no período mais relevante e criativo da banda, Rita Lee gravou outros quatro álbuns: “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970) e “Jardim Elétrico” (1971).
Eles foram fundamentais no tropicalismo, ao unir a psicodelia aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento entre músicos de rock do mundo, idolatrados por Kurt Cobain, David Byrne, Jack White, Beck e outros.
O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em “É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália.
Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968, a gravação fundamental do movimento.
O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a saída dela d’Os Mutantes. O primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de deixar o grupo, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, também gravado com a banda.
A cantora Rita Lee, em evento de lançamento de seu livro em 2016.
GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
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