Maria Aparecida de Oliveira, que mora em Botucatu, no interior de SP, contou que conversou rapidamente com a irmã Fernanda Santos de Oliveira. Mulher foi localizada no apartamento onde mora na capital francesa com ferimentos nos pés e punhos. Caso de desaparecimento de brasileira em Paris mobilizou pessoas e instituições
Arquivo Pessoal
A irmã da brasileira que ficou desaparecida por mais de 15 dias em Paris está aliviada com a fato dela ter sido encontrada bem e com vida. Fernanda Santos de Oliveira, de 44 anos, estava desaparecida desde o dia 6 de maio, quando saiu para trabalhar em um restaurante de comida portuguesa na capital da França.
De acordo com a irmã mais velha de Fernanda, Maria Aparecida de Oliveira, de 52 anos, que vive em Botucatu, no interior de SP, a brasileira foi encontrada no apartamento onde mora depois da polícia ter sido acionada por vizinhos que a viram retornar para casa na manhã desta segunda-feira (22).
As irmãs se falaram em uma chamada de vídeo, quando Fernanda foi levada pela equipe policial para uma unidade médica.
“Eu só quero abraçá-la, apertá-la, pegar ela no colo. Ela está muito magrinha, muito magrinha. Mas, eu falei para ela que logo ela vai se recuperar”, afirma Maria Aparecida.
A última vez que as irmãs tinham conversado foi no dia 3 de maio, três dias antes do desaparecimento de Fernanda ter sido registrado. Desde então, a família vivia momentos de angústia sem saber onde Fernanda estava. “Foi uma alegria sem tamanho saber que ela foi encontrada, que ela está bem e viva”, conta.
Maria Aparecida conseguiu falar rapidamente com a irmã que estava desaparecida em Paris e foi encontrada após 15 dias
Adriano Baracho/ TV TEM
Segundo a irmã, Fernanda mora há pouco mais de um ano em Boulogne-Billancourt, região do subúrbio da capital francesa.
Uma prima da brasileira deve ir à Paris nos próximos dias para acompanhar a situação de perto e a família avalia a possibilidade de trazer Fernanda de volta para o Brasil, já que a situação dela no país ainda é irregular.
O g1 consultou o Consulado-Geral do Brasil em Paris que disse, em nota, que “permanece em contato com as autoridades francesas envolvidas, de forma a transmitir à família todas as informações disponíveis”, diz o texto.
O consulado também informou que tem atuado para “prover a assistência possível à senhora Fernanda de Oliveira, nos limites de atuação permitidos pela legislação francesa e pelos acordos internacionais pertinentes assinados por Brasil e França. Ressalte-se que o sigilo médico na França em casos de internação hospitalar, em particular de ordem psiquiátrica, é extremamente rigoroso”, conclui a nota.
Machucados e poucas lembranças
Brasileira desaparecida em Paris é encontrada
Após ser localizada, a brasileira disse que foi fechada em uma casa abandonada, mas que não se lembra do que aconteceu. As informações foram divulgadas pela presidente da ONG que ajudou nas buscas por Fernanda. Ainda de acordo com ela, a brasileira foi encontrada com os pés e os punhos machucados.
Segundo Nellma Barreto, responsável pela Associação Mulheres na Resistência de Paris, Fernanda disse que saiu para trabalhar pela manhã e se perdeu. O desaparecimento dela foi registrado em 6 de maio e mobilizou o grupo feminino, que fez buscas pela brasileira por toda a capital francesa.
“Ela disse que estava fechada em uma casa abandonada durante esses dias todos, em um lugar muito distante de Paris. Ela fala que não lembra por quem [foi fechada] nem onde. Só lembra que alguém deu um papel para ela com o endereço da casa dela, e aí simplesmente ela voltou”, diz.
Ainda segundo Nellma, a brasileira foi encontrada com machucados nos pés e nos punhos. “Ela estava calçada, mas com os pés bem machucados, como quem andou muito. Também tem uma marca nos punhos, como [se] alguma coisa [estivesse] apertando ali. Ela não sabe dizer o que foi. Está aparentemente muito fraca, abatida e debilitada”, diz.
Depois de localizada, Fernanda foi levada pela polícia a um unidade médica especializada, onde foi submetida a exames para saber se ela sofreu algum tipo de violência. Nellma participou da consulta e ajudou na tradução entre a brasileira e os médicos.
Segundo a responsável pela ONG, Fernanda será transferida para o Hospital Policial Saint Anne nesta terça-feira (23). A unidade é especializada em psiquiatria. “Ela vai ficar hospitalizada pelos próximos dias, recebendo todo o atendimento médico que precisa”, disse a voluntária.
De acordo com Nellma, o cartão bancário de Fernanda chegou a ser utilizado duas vezes enquanto ela foi dada como desaparecida, uma na última terça-feira (16), e outra no sábado (20). A brasileira, no entanto, não se recorda do que aconteceu. Os familiares dela estão a caminho de Paris para trazê-la de volta ao Brasil.
A polícia francesa investiga o caso. “Pode ter sido um surto, em que ela saiu andando, vagando pelas ruas, como também ela pode ter ficado em cárcere privado até esse momento onde, segundo ela, foi entregue um papel com endereço e ela conseguiu chegar até em casa”, diz Nellma.
Ao g1, a voluntária disse que a localização de Fernanda foi celebrada pela mulheres da ONG. “Nós estamos muito aliviados, comemorando esse encontro. Nem todos os dias temos a sorte de encontrar os nossos vivos.”
Desaparecimento
O desaparecimento de Fernanda havia sido registrado no dia 6 de maio, quando ela saiu do apartamento em que morava, sem celular, levando apenas uma bolsa de mão, um patinete elétrico e como documento apenas o passaporte.
Mulheres da ONG que ajudava na busca por Fernanda disseram que ela poderia estar sofrendo assédio sexual em um dos trabalhos e isso pode ter motivado o desparecimento. Essa hipótese é investigada pela polícia assim como todas as informações que foram passadas pela brasileira.
Dias antes da mulher ser encontrada, a polícia chegou a publicar um comunicado da polícia parisiense revelou que Fernanda teria sido vista nos dias 8 e 9 de maio em Melun, no departamento Sena e Marne. “Ela estava sob posse de um passaporte e um passe de transporte”, disse a polícia, que ainda inclui três fotos da mulher no apelo. (Veja abaixo).
Polícia de Paris emitiu um comunicado para que testemunhas forneçam informações sobre brasileira desaparecida
Polícia de Paris/Divulgação
Mobilização em Paris
Desaparecimento de brasileira há mais de dez dias na França mobiliza grupo de mulheres com buscas
Ainda conforme com Nellma, a associação foi alertada no dia 11 de maio, seis dias depois do desaparecimento de Fernanda, após ter sido avisada pela família da brasileira, e realizou um boletim de ocorrência na sexta-feira (12).
Segundo ela, o desaparecimento já havia sido sinalizado à polícia pela patroa de Fernanda, no restaurante, no dia anterior.
Grupo de mulheres faz buscas por Paris atrás de brasileira que desapareceu
Associação Mulheres na Resistência de Paris/Divulgação
Nos dias 13 e 18 de maio, elas fizeram mutirões para procurar a brasileira com a distribuição de cartazes com fotos de Fernanda nos principais pontos da capital, como estações e parques. Elas também fizeram buscas em hospitais.
Um dos cartazes espalhados por Paris durante mutirão de busca da brasileira Fernanda Santos Oliveria, que desapareceu em Paris, em 6 de maio de 2023.
Association Femmes de la Résistance
Situação irregular
Na capital francesa, Fernanda conseguiu um emprego em restaurante de culinária portuguesa e mantinha ainda dois bicos como faxineira. Contudo, ela vive ilegalmente no país e estava em busca de regularizar a situação.
Nellma Barreto suspeita que Fernanda poderia estar sofrendo assédio sexual em um dos trabalhos e isso pode ter motivado o desparecimento, porém as motivações ainda serão investigadas.
Também houve o registro de um surto que Fernanda teria sofrido dias antes. Os bombeiros foram acionados, mas ela disse que estava bem.
Fernanda Santos de Oliveira, de Botucatu (SP), está há 9 dias desaparecida em Paris
Arquivo Pessoal
Sonho de morar no exterior
Segundo a irmã, Fernanda sempre falou em trabalhar na sua área de formação fora do país, já que em Botucatu, onde morava antes de ir para a Europa, teve poucas oportunidades. Ela é formada como técnica de enfermagem e tinha curso de radiologia.
“A Fernanda trabalhou por mais de dez anos em uma indústria de Botucatu e, quando saiu, passou a fazer bicos como cuidadora, de motorista para idosos que precisavam ser levados a consultas médicas. E sempre foi muito estudiosa, sonhadora e esforçada”, detalha a irmã Maria Aparecida.
Fernanda Santos de Oliveira, natural de Botucatu (SP), está desaparecida desde o dia 6 de maio
Arquivo Pessoal
Desde que chegou na França, em abril de 2022, Fernanda já conseguiu conhecer Amsterdã, na Holanda, e Ibiza, na Espanha. “Ela sempre me disse que queria viajar, conhecer o mundo”, afirma a irmã.
Antes de ir para a França, onde uma prima já vivia, Fernanda tentou o visto para os Estados Unidos, mas não teve sucesso. “Antes de ir para a Europa, ela nunca havia saído do Brasil”, revela Maria.
A irmã conta também que Fernanda sempre foi muito apegada aos familiares e tem um filho de 23 anos, que lhe deu um casal de netos, uma menina com três anos e um menino de 11 meses. “O menor ela só conheceu por fotos e vídeos, todo domingo ela falava com eles por vídeo.”
Fernanda tem um filho de 23 anos no interior de SP
Arquivo pessoal
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