O G1 ouviu duas mães com filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Bauru (SP) e também uma especialista sobre temas como inclusão, a maternidade e carreira. Nascimento de um filho traz mudanças na carreira das mulheres
Unsplash/ Reprodução
A chegada de um filho muda tudo na vida de uma família – sejam os hábitos, a rotina, o sono e, especificamente para muitas mães, a carreira.
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Neste recorte, é preciso entender também as nuances de cada núcleo familiar: para muitas mulheres, a maternidade também se transforma a partir de um diagnóstico, como foi para Kelly Cristina e Juliana dos Santos, ambas moradoras de Bauru (SP) e mães de filhos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A realidade de mães atípicas
Kelly Cristina e seu filho à esquerda, Juliana dos Santos e suas gêmeas à direita
Arquivo pessoal
Em entrevista ao g1, Juliana falou sobre a jornada até o diagnóstico de suas filhas, gêmeas, e os reflexos em sua carreira após se demitir de uma multinacional, que não priorizava a saúde mental dos funcionários, para se dedicar à empresa com o seu parceiro.
“Eu pensava que, quando elas entrassem na escola, eu ia poder voltar a trabalhar, mas não foi bem assim”, relata Juliana, que conseguiu conciliar o trabalho e a maternidade até suas filhas completarem 3 anos.
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A rotina médica já era puxada por conta da prematuridade das meninas e, com o diagnóstico do autismo, as idas à terapia e aos médicos foram adicionadas ao itinerário, chegando até em duas sessões ao dia. “Como se trata de duas crianças, é ainda mais complicado”, explica.
Já Kelly Cristina percebeu os sinais de seletividade severa em seu filho e conta que foi desligada assim que apresentou o laudo do transtorno à empresa: “Eu pensei: e agora, cadê meu chão? Como que eu vou dar continuidade ao tratamento do meu filho? Perdi tudo.”
Mariana Bonnás, psicóloga especializada no atendimento de mães atípicas, aborda também a falta de uma rede de apoio, muitas vezes, no próprio núcleo familiar, além da ausência de políticas públicas eficazes e de medidas inclusivas dentro das organizações.
“As empresas nem sempre entendem as necessidades específicas dessas famílias. Para retornar ao mercado de trabalho, as mães precisam do suporte do empregador, de mais flexibilidade de horário, entre outras medidas”, avalia.
Oportunidades e inclusão
Mariana Bonnás, psicóloga especializada no atendimento de mães atípicas
Arquivo pessoal
No entanto, Kelly não pôde se abalar por muito tempo e, assim que teve oportunidade em outra empresa, esclareceu ser uma mãe atípica e surpreendeu-se com a receptividade, a flexibilidade e o apoio psicológico e financeiro.
Ela explica que as horas que ela precisa sair para a terapia não são descontadas, existem projetos na empresa voltados para a alfabetização de crianças e, agora, incluindo também as que se encaixam na TEA, ajuda de custo para alimentação e tratamentos e um apoio psicológico do setor de Recursos Humanos.
“Eles passaram essa tranquilidade para nós, porque se a gente não estiver em ordem, nada progride na nossa vida. Então, com esse apoio psicológico, hoje eu saio da empresa e posso descansar, passar uma certa segurança para os meus filhos, porque amanhã eu estarei lá, me dedicando à empresa, retribuindo tudo que eles fazem por mim”, relata.
O gerente do RH da empresa que Kelly trabalha, Thiago Honório, destaca que a importância em oferecer esse tipo de auxílio estar em focar na saúde mental dos funcionários, principalmente a crescente parcela de mães atípicas.
“Levar mais bem-estar aos colaboradores, principalmente para pais de filhos que necessitam de um apoio especial para o desenvolvimento e consequentemente autonomia para estas crianças”, finaliza.
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*Colaborou sob a supervisão de Mariana Bonora.
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