115 anos da Imigração Japonesa: como a criação das colônias marcam a história do centro-oeste paulista


Cidades da região receberam os primeiros imigrantes do país asiático e até hoje, mais de um século depois, ainda guardam tradições orientais. A referência está em festividades e também em personalidades que se destacaram no esporte, nas artes e na política. Familiares de Edson Yassunaga da segunda geração de imigrantes, em Promissão
Arquivo pessoal
Os 115 anos da imigração japonesa no Brasil são comemorados neste domingo (18) e, passados mais de um século, o centro-oeste paulista guarda grande influência da cultura nipônica em diversas áreas.
Algumas das maiores indústrias da região foram fundadas pelos pioneiros e seus descendentes. Entre as gerações, grandes nomes se destacaram profissionalmente e também nos esportes, nas artes e na política.
Cidades como Guaimbê e Promissão (SP) estiveram entre as primeiras a receber colônias de japoneses viabilizadas por um dos “pais da imigração”, Shuhei Uetsuka. Ele inclusive está enterrado em Promissão.
Bastos, outro exemplo regional, foi fundada por japoneses e mantém profundo intercâmbio com o país. Não são raras a visitas de cônsules do Japão ao centro-oeste do Estado, que também já recebeu membros da família imperial japonesa.
Presidente da Liga das Associações Culturais Nipo-Brasileiras da Alta Paulista, o mariliense Keniti Mizuno, chama a atenção para as grandes festas que exaltam a tradição japonesa na região.
“Em Marília temos a Japan Fest, em Garça tem a Festa das Cerejeiras, em Tupã há a Nikkey Fest e em Bastos temos a Festa do Ovo, que reúnem milhares de pessoas todos os anos para celebrar a cultura de nossos antepassados e o Japão”, afirma.
Japan Fest de Marília (SP) é um dos maiores eventos do segmento no Brasil
Paulo Cansini/Nikkey Marília
Keniti também destaca a importância dos descendentes dos imigrantes para os esportes. “Tetsuo Okamoto, que ganhou a primeira medalha olímpica da natação brasileira, era mariliense. Temos atletas da região jogando beisebol nos Estados Unidos”.
O presidente da associação regional também destaca outros grandes nomes, como o ex-presidente da Câmara de Marília, e diversas vezes deputado estadual e federal, Diogo Nomura, e do professor de medicina Akira Nakadaira, precursor da endoscopia.
“Temos ainda grandes industriais por toda a região, que criaram empresas de renome internacional, como Sassazaki, Jacto, Ikeda”, completa. No campo das artes plástica, o imigrante Manabu Mabe trabalhou em cafezais de Lins, onde começou a pintar.
Testuo Okamoto, de Marília, primeiro medalhista olímpico da natação pelo Brasil
COB/arquivo
E foi justamente para trabalhar na colheita de café na região que chegaram as primeiras levas de japoneses a bordo do navio Kasato-Maru, que atracou no porto de Santos (SP) em 1908 após acordo entre os governos do Brasil e Japão.
Maior comunidade fora do Japão
Associação de japoneses em Guaimbê
Shizuka Sakai Shigematsu/Arquivo pessoal
Estudos acadêmicos mostram que a maior comunidade japonesa fora do país de origem fica no Brasil, com mais de 1,4 milhão de descendentes, entre os quais cerca de 80% vivem no Estado de São Paulo, e boa parte no centro-oeste paulista.
É o que aponta a pesquisa de Amanda Mitie Shigematsu, no curso de História da Unifesp, sobre as colônias japonesas de Guaimbê, fundadas por Shuhei Uetsuka, e onde viveram seus avós.
“Uetsuka adquiriu 1,4 mil alqueires de terra e dividiu em 10 alqueires cada, no qual ele revendeu a preço de custo aos imigrantes japoneses. Em 1918, ele criou a sua primeira colônia chamada Itacolomi, no atual Bairro de Bom Sucesso, na cidade de Promissão”, escreveu a historiadora.
“O processo de colonização na cidade de Guaimbê começou em 1923, o segundo núcleo de Uetsuka foi criado nas terras adquiridas do proprietário Sr João Domingues às margens do córrego Guaimbê”, continua.
Monumento em homenagem a Shuhei Uetsuka, em Promissão
Divulgação
Segundo a pesquisa de Amanda, outras colônias também deram origem a bairros rurais de Lins e Getulina.
Na colônia de Promissão, os antepassados de Edson Yassunaga, funcionário público de 43 anos, conviveram com Shuhei Uetsuka, cujo túmulo localizado na cidade recebeu a visita da princesa Mako, da família imperial do Japão, em 2018.
“Hoje estamos na quarta geração da família Yassunaga, muitos ainda morando em Promissão, mas outros tantos espalhados pelo Brasil e pelo Japão”, conta Edson.
“Quem está lá nos fala que os japoneses do Brasil têm muito mais apego pela tradição do que vive hoje no Japão, que passou por um processo de americanização dos costumes “.
Para ele, a data em que se comemora o aniversário da imigração japonesa é importante para agradecer aos antepassados. “Foram eles que trabalharam desde o começo e contribuíram com a diversidade brasileira e o desenvolvimento de muitas cidades”, destaca.
Princesa Mako, membro da família imperial do Japão, visitou Marília e Promissão em 2018
Mauro Abreu/Prefeitura de Marília/ Arquivo
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