André Luiz, de sete anos, surpreendeu os pais ao pedir um santuário para ‘rezar em casa’, em Bauru (SP). No dia da inauguração, ele ministrou, ao lado do padre Gilson Luiz Maia, a renovação dos votos de 15 anos dos pais adotivos. André Luiz, que ganhou capela, celebrou renovação de votos de casamento dos pais adotivos, em Bauru (SP)
Arquivo pessoal
O menino que pediu de presente uma capela “para rezar” no quintal de casa, em Bauru, no interior de SP, celebrou a renovação dos votos de casamento dos pais adotivos no local.
A Capela Santo André conta com todos os detalhes de uma igreja tradicional, como altar, púlpito, imagens sacras e um sino, e foi batizada em homenagem ao seu idealizador: o pequeno André Luiz, de apenas sete anos.
No dia da inauguração do santuário, André ministrou, ao lado do padre Gilson Luiz Maia, que congrega e reside em Roma, na Itália, mas estava em Bauru, a renovação dos votos de 15 anos dos pais adotivos, Jaqueline e Éder Maganha.
Capela Santo André foi pedido de uma criança aos pais em Bauru (SP)
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“Somos um casal muito apaixonado, de cinco em cinco anos renovamos os votos matrimoniais. Nos casamos em 2008. Em 2013, bodas de madeiras, em 2018, bodas de zinco, e agora bodas de cristal”, conta Jaqueline.
Adotado ainda quando recém-nascido, André é tido pelos pais como parte de um milagre que chegou junto com a cura de um câncer de mama enfrentado pela mãe, em 2016. “Fiz o tratamento e, no último dia da radioterapia, me ligaram e contaram do André. Ele tinha apenas 40 dias de vida”, relembra.
Jaqueline e Éder Maganha adotaram André Luiz com apenas 40 dias de vida
Arquivo Pessoal
A história do casal Jaqueline e Éder, no entanto, começou 10 anos antes da chegada de André à família. Em agosto de 2006, a dupla se conheceu pela internet e, novamente, o apoio em um momento difícil foi crucial para a manutenção da relação.
“Eu era divorciada e ele solteiro, e, a partir daí, começamos a nos ver e aconteceu um episódio muito triste, que foi a morte do meu pai. E o Éder foi para mim aquela força que precisava para seguir em frente”, conta.
Como em qualquer relacionamento, as adversidades fizeram parte dessa relação. Muitas vezes, sem que o casal pudesse evitá-las. Jaqueline conta que, pouco antes do câncer, enfrentou um descolamento de retina que a impossibilitou de continuar no trabalho como bancária. “Cheguei a perder a visão total do olho direito. Eu não posso dirigir, sou aposentada por invalidez”, revela.
Em meio às dificuldades, Jaqueline confessa que o desejo de ser mãe não era uma de suas prioridades. Novamente, o apoio do marido a fez repensar a possibilidade.
“Eu nunca tive o sonho de ser mãe, nem de engravidar, muito menos de adotar. Quem despertou esse desejo no meu coração foi o meu marido. Após conversarmos, a gente decidiu entrar na fila da adoção. Enquanto eu estava de licença por causa do olho, descobri o câncer. A gente chegou a pensar em desistir, mas, no último dia de tratamento, foi concedida a guarda do André. Naquele momento, eu fui tomada por um desejo e me vi como mãe dele”, diz Jaqueline.
Casal Maganha ao lado de André Luiz na renovação dos votos do casamento, em 2018, em Bauru (SP)
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O nome de “santo” dado ao pequeno foi uma homenagem aos pais. “Eu sou a terceira irmã de quatro filhas e meu pai se chamava Luiz. A minha mãe, caso engravidasse de um homem, daria o nome de André Luiz ao bebê. Então, esse nome, que significa ‘ser humano de luz’, nós iríamos ter esse nome se fôssemos homens”, conta.
“De luz”, mas também conhecido como um menino “carinhoso” e “abençoado”, André desenvolveu uma paixão por capelas e igrejas ao longo da vida. “Eu adoro passear por todas elas”, conta empolgado.
Jaqueline explica que, apesar da religiosidade e da criação em uma família católica, o filho tem “liberdade para fazer suas escolhas” e que o pedido para a construção da capela, bem como o gosto pelo catolicismo nasceram espontaneamente.
André Luiz é fã de igrejas, em Bauru (SP)
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“Fomos criados no catolicismo, e o André nos acompanha nas missas. A influência que tivemos foi essa. Esse desejo de conhecer igrejas que ele tem nasceu única e exclusivamente do coraçãozinho dele”, explica.
Para além do gosto por um dos principais símbolos da Igreja Católica, o menino pôde emocionar os pais ao participar ativamente da celebração de 15 anos de casados dentro de sua capela.
“Embora já tivéssemos feito a renovação outras duas vezes, nada foi comparado com o que aconteceu aqui na capela do André. Na hora que recebemos as alianças dele, foi benção divina”, revela Jaqueline.
Casal adotou André Luiz com 40 dias de vida
Anderson Camargo/TV TEM
Em virtude da religiosidade do filho, Jaqueline geralmente é questionada se André seguirá como padre no futuro, porém, a mãe faz questão de ressaltar que a escolha pela vida religiosa dependerá única e exclusivamente do desejo do filho.
“Eu não sei se ele vai ser [padre], Deus é que sabe se ele vai ser um religioso ou não. A minha função, nesse momento, com uma criança de sete anos, é incentivá-lo a realizar os sonhos dele. Eu, como mãe, só quero que ele seja feliz, que ele possa fazer as escolhas e tenho certeza que Deus vai direcioná-lo”, pontua.
André Luiz em sua capela ao lado dos pais e do padre
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Em uma vida entre “lutas e glórias”, a única verdade imutável para Jaqueline é a certeza de que André mudou para sempre a sua vida.
“O André muda minha vida todos os dias. Ele é um menino abençoado, carinhoso. Ele me fez enxergar muita coisa. Eu digo que precisei ficar cega para poder enxergar muita coisa. Eu tenho comigo na minha fé que aconteceu tudo isso para que eu pudesse recebê-lo com tanto amor.”
André Luiz ao lado dos pais Jaqueline e Eder Maganha, em Bauru (SP)
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Pedido inusitado
O pedido pela construção da capela no quintal de casa veio do próprio André Luiz, que queria “um lugar em casa para rezar”.
Após quatro meses de construção, o espaço foi aberto ao público no último dia 9 de julho e teve uma missa inaugural ministrada pelo padre Gilson Luiz Maia, que já foi pároco da igreja frequentada pela família de André.
Construção da capela demorou 4 meses
Anderson Camargo/TV TEM
“Foram cerca de 80 pessoas. Dentro da capela cabem, com muito conforto, 14 pessoas sentadas, o restante ficou no quintal. Convidamos pessoas que fazem parte da rede de apoio do André, como professores, pedagogos, amigos e parentes”, conta a mãe Jaqueline.
André, por sua vez, continua apaixonado pela capela e aproveita o espaço para rezar, como desejado inicialmente, e aprender novos talentos. “Ele amou o resultado. Os olhinhos dele brilharam quando viu. Ele gosta de ficar lá, toca o tecladinho dele”, conta a mãe.
Capela de menino de Bauru (SP) foi inaugurada com missa ministrada por padre que mora em Roma
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Filho adotivo que pediu capela para ‘rezar em casa’ celebra renovação dos votos de casamento dos pais: ‘Benção divina’, diz mãe
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