Três agricultores de Bauru (SP) compartilham suas experiências sobre a mudança do cenário agrícola no interior paulista. Lucia Helena Martins, Afonso Lima e Maria Aparecida Luz rompem com o estereótipo de que produtores rurais não buscam conhecimento e inovação. Neste Dia do Agricultor, comemorado nesta sexta-feira (28), três produtores agrícolas de Bauru (SP) compartilham suas experiências no interior paulista.
Acervo Pessoal
Diferente do cenário de 40 anos atrás no Brasil, a profissão do agricultor já não está mais associada apenas ao trabalho braçal e à falta de estudo. A realidade do produtor rural mudou significativamente no país. Hoje, para atuar no campo, o agricultor precisa fazer planos, gerir e entender toda a parte burocrática empresarial.
No Dia do Agricultor, comemorado nesta sexta-feira (28), o g1 traz relatos de três produtores de Bauru (SP), que compartilharam experiências sobre a mudança do setor agrícola no interior paulista, onde a agricultura deixou de ser sinônimo de subsistência e se tornou uma atividade sustentável e lucrativa.
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Lucia Helena Martins, de 60 anos, trabalha como produtora de hortaliças orgânicas em Bauru. Formada em comércio exterior, ela trocou os escritórios de São Paulo e, há 30 anos, comanda toda a logística e produção orgânica de sua empresa. Mas, diferente do que se espera de um trabalhador rural, a empresária conta que faz alguns anos que não lida diretamente com a terra.
“Eu criei as primeiras hortas no início do negócio. Quando percebi o potencial de vendas na região e decidi fazer uma pós-graduação em Gestão Empresarial para administrar a empresa (…) larguei as hortas para focar nos negócios”, relembra.
Para a empresária Lucia Helena, a agricultura ainda é vista sob uma perspectiva antiga.
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Para a empresária, a agricultura ainda é vista sob uma perspectiva antiga, na qual o produtor rural é estereotipado como alguém sem estudo. “É muito triste ver que a maioria dos brasileiros ainda acredita que o trabalhador rural não tem formação”, desabafa .
Com a mesma mentalidade, Afonso Lima, de 33 anos, seguiu um caminho semelhante ao da empresária. Apaixonado por agronomia, ele largou a carreira de engenheiro mecânico para cultivar cogumelos orgânicos em uma horta urbana de Bauru.
“Minha jornada foi bem diferente do que as pessoas costumam imaginar dos agricultores. Depois de trabalhar por muitos anos na indústria, decidi mudar minha vocação para trabalhar com a terra ”, relata.
Apaixonado por agronomia, Afonso Lima, de 33 anos, cultiva cogumelos orgânicos.
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Segundo o produtor, a agricultura ganhou novas funções nos últimos anos, incluindo garantir o desenvolvimento sustentável e se adaptar às novas ferramentas tecnológicas que facilitam a produção.
“Antigamente, se você não estudasse, ia para a roça. Hoje é diferente. Para você ir para a roça você precisa estudar. A tecnologia está dominando o setor e, por isso, precisa de profissionais capacitados”, pontua.
O produtor conta ainda que precisou fazer cursos e experimentos para iniciar a produção de cogumelos. “Eu precisava ter total domínio sobre o mercado de Bauru e também da cadeia produtiva do que queria vender”, acrescenta.
Hortaliças, frutas e legumes estão entre os alimentos orgânicos mais consumidos entre os brasileiros.
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Embora existam aqueles que migraram para o setor agrícola depois de formados, os que nasceram em meio a essa realidade também aderiram aos novos valores da agricultura local.
É o caso de Maria Aparecida Luz, de 72 anos, presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares do Assentamento Aimorés em Bauru (SP). Ligada à agricultura desde a infância, Maria Aparecida incentiva os trabalhadores rurais a buscar formação e conhecimento profissional.
“Nasci em uma fazenda onde meus pais eram agricultores. Quando criança, aos 13 anos, eu já colhia café e amendoim para ajudá-los financeiramente. Essa realidade me aproximou das causas dos produtores rurais”.
Maria Aparecida Luz é presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares do Assentamento Aimorés em Bauru (SP).
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Há 30 anos como presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de São Paulo, a ativista conta sobre a importância dos trabalhadores rurais serem mais organizados e estudarem diferentes formas de cultivar alimentos sem agrotóxicos.
“Desde os anos 90, quando passei a acompanhar a CPT, busco oferecer todo suporte aos agricultores assentados para produzirem seus próprios alimentos e vendê-los nos centros urbanos da região”, explica.
A venda dos alimentos é uma das preocupações dos agricultores, e por isso eles têm adotado diferentes ferramentas tecnológicas, como as redes sociais, para divulgar seus produtos. Lucia, por exemplo, tem perfil no Instagram para divulgar fotos de sua colheita.
“Sou uma produtora moderna e sempre estou em busca de romper com a visão pejorativa de que a mulher agricultora é alheia à tecnologia”.
Muitos bauruenses se dedicam à agricultura.
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Maria Aparecida também leva uma vida agitada entre palestras e cursos na capital paulista. Nos últimos anos tem se dedicado a levar mais informações aos assentados sobre conflitos no campo e trabalho escravo.
“Ainda existem muitos trabalhadores rurais sem qualificação que ficam à mercê da fome. Por isso, é importante que tenham consciência sobre o conflito no campo, para não que não se tornem futuras vítimas”.
Para Afonso, a agricultura desempenha um papel fundamental em abastecer a mesa da população brasileira, gerando alimento, emprego e renda na região. “Por isso, é importante que os produtores se atualizem para saber como suprir as demandas do mercado de trabalho e não ficar para trás, conclui.
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