Marcelo Hanshkov, de Duartina (SP), foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Tratamento sem comprovação científica é oferecido para pessoas com câncer, Alzheimer, Parkinson e outras doenças graves. Cada sessão custa cerca de R$ 200 mil. Ex-policial militar ambiental de Duartina (SP) luta por tratamento contra ELA
Arquivo Pessoal
Um ex-policial ambiental de Duartina, no interior de SP, está em busca de um tratamento com um médico brasileiro que vem causando polêmica nos Estados Unidos.
Marcelo Hanshkov, de 48 anos, foi diagnosticado há cinco anos com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva e acarreta paralisia motora irreversível.
Desde o final de 2022, o ex-policial tenta arrecadar cerca de R$ 250 mil para realizar uma sessão com o médico brasileiro Marcio Aurélio Martins Abreu, que mudou o nome para Marc Abreu nos Estados Unidos.
O médico, formado em São Paulo, é dono de uma clínica na Flórida (EUA) e oferece um tratamento sem comprovação científica para câncer, Alzheimer, Parkinson e outras doenças graves, como a ELA. Cada sessão custa cerca de R$ 200 mil e quase 100% dos pacientes são brasileiros (saiba mais abaixo).
Pacientes com a ELA, como Marcelo, sofrem paralisia gradual como resultado da perda de capacidades cruciais, como falar, movimentar, engolir e respirar.
“É uma doença que vai literalmente paralisando toda musculatura, deixando minha vida sem qualidade nenhuma. Hoje, quase não ando e a pouca locomoção que tenho é com a ajuda de andador. Os dedos das mãos estão atrofiando, tenho muitas câimbras noturnas, fraqueza muscular e engasgo com frequência”, conta Marcelo.
Marcelo Hanshkov foi diagnosticado com ELA há cinco anos, em Duartina (SP)
Arquivo Pessoal
A suposta cura oferecida pelo médico nos EUA teve muita repercussão no Brasil. O mesmo médico já tinha aparecido na TV brasileira promovendo um tratamento térmico para Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurológicas.
Normalmente, ele é apresentado como pesquisador da Universidade Yale e como inventor de um equipamento aprovado pela FDA, a Agência de Saúde Americana.
“Pesquisando sobre a doença na internet, vi esse um tratamento na Flórida. Hoje fica em 36 mil dólares, ou seja, um tratamento caro, mas que me traz esperança”, explica o ex-policial.
Para dar início ao tratamento, a família de Marcelo está realizando uma campanha nas redes sociais e uma “vaquinha” na internet para arrecadar dinheiro. Desde novembro de 2022, já foram arrecadados pouco mais de R$ 25 mil. “Não é só para fazer o tratamento, mas para manter os custos que ele tem com fonoaudióloga, fisioterapeuta e suplementos”, conta a irmã de Marcelo, Rosa Hanshkov.
Médico brasileiro oferece tratamento sem comprovação científica por R$ 200 mil
TV Globo/Reprodução
Mesmo diante do tratamento polêmico, a irmã afirma que o objetivo de Marcelo e da família não é a cura da doença, mas sim uma maneira de amenizar os sintomas que tanto incomodam no dia a dia do ex-policial.
“Para ele conviver com essa doença tem sido muito difícil. Ele sofre com câimbras noturnas, engasga com facilidade, depende da esposa para tudo, comer, tomar banho. Não tememos o tratamento, confiamos que algum resultado vai dar, pelo menos diminuir as câimbras, melhorar a fala”, pontua Rosa.
Tratamento milagroso
Marc Abreu inventou um equipamento, aprovado pela Agência de Saúde Americana, que atua como um termômetro, cujo objetivo é induzir sinais no cérebro, modificando as proteínas de choque térmico.
O aparelho surgiu da descoberta do Túnel de Temperatura Cerebral, de 2003, feita pelo próprio Abreu. No entanto, a descoberta não foi publicada em revistas científicas e nenhum tipo de pesquisa foi feita sobre a sua segurança, funcionamento ou eficácia. O tratamento já é oferecido por ele há sete anos.
As pessoas que vão em busca do tratamento tiram sangue, passam por testes cognitivos, provas de força e, depois, o tubo de calor. Cada paciente paga, adiantado, cerca de R$ 200 mil para uma sessão de duas a três horas.
Na Flórida, médico brasileiro oferece tratamento sem comprovação científica por R$ 200 mil
A clínica do médico na cidade de Aventura, na Flórida (EUA), se chama BTT. É uma abreviação em inglês pra “túnel térmico cerebral”. O túnel seria uma espécie de ligação que vai desde o cérebro até uma pele bem fina entre o olho e o nariz. Então, medindo a temperatura dessa pele, seria possível determinar a temperatura cerebral.
O tratamento terapêutico é caracterizado como não invasivo. Nele, não há corte e nem dor. Nas sessões, o paciente utiliza uma espécie de capacete, desenvolvido por Marc, com um micro sensor na superfície do túnel térmico do cérebro, localizado na pálpebra até a ponte do nariz.
O “capacete” possui antenas com a missão de captar o sinal cerebral e fazer, por meio da indução, a entrega de calor às proteínas de choque térmico. Em entrevistas, o especialista contou que essas proteínas, únicas presentes em todos os seres vivos, começam a diminuir ou perder a função com o envelhecimento.
O Fantástico, da TV Globo, exibido no dia 17 de julho, entrevistou Abreu e trouxe relatos de pacientes que que submeteram ao procedimento e não tiveram nenhuma melhora. Segundo a reportagem, o brasileiro vende o tratamento como se ele tivesse sido estudado e datado com os resultados de vários pacientes.
A assessoria de imprensa do médico Marc Abreu repudiou as acusações feitas na matéria, ressaltando que “em momento algum, como repetido na reportagem, foi vendida a cura para doenças aos pacientes […] e que após o tratamento, os pacientes são orientados a realizarem acompanhamento como em uma prática médica habitual no Brasil, com retorno à consulta”, diz o comunicado.
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