Decoração afetiva: tendência propõe ambientes aconchegantes com peças que preservem memórias sentimentais


Arquitetos explicam como móveis e objetos pessoais podem resgatar histórias e momentos importantes dentro dos espaços da casa ou apartamento. Fotos de viagens, passeios ou momentos específicos podem combinar muito bem na decoração afetiva
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Um quadro com fotos dos amigos sobre a estante da sala, uma peça que relembre uma incrível viagem sobre a cômoda, uma mobília antiga da família que carrega os melhores sentimentos. Essas são algumas propostas da decoração afetiva, que tem como objetivo criar um ambiente acolhedor e personalizado, repleto de elementos que carregam histórias e lembranças importantes.
O arquiteto Guilherme Brunhare, de Garça (SP), afirma que nessa proposta, cada objeto escolhido tem um significado especial e pode ser utilizado como forma de expressão da identidade e dos valores da família, como, por exemplo, peças únicas e artesanais que tenham sido adquiridas, presenteadas por amigos ou mesmo dadas como heranças de família. Também é comum o uso de fotografias, obras de arte e objetos que tenham relação com momentos especiais vividos pelos moradores da casa.
“Numa linguagem mais emotiva, a decoração afetiva é muito mais do que simplesmente enfeitar a casa. É criar um ambiente que conte a sua história, que transmita a sua essência, que seja um reflexo do que você é e do que você sente”, afirma o profissional.
Na decoração afetiva, cada objeto, cor e textura escolhida para compor a casa deve ser pensada com carinho e cuidado. Pode ser um quadro na parede que remeta a uma viagem inesquecível, uma almofada com estampa de flor que lembre a sua avó, um tapete que foi tecido pelas suas próprias mãos ou um móvel que foi restaurado com muito amor e dedicação.
Uma coleção de livros favoritos também é uma ótima opção para deixar os ambientes mais personalizados
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Segundo Guilherme, decorar afetivamente é resgatar as memórias e as emoções que estão guardadas em cada pedacinho da casa ou apartamento. É transformar um espaço em um lugar cheio de significado.
“É quando alguém entra nesse ambiente e pode sentir a sua energia, a sua história e se conectar com você de uma forma especial. É isso que faz a decoração afetiva tão emocionante. Ela transforma a casa em um verdadeiro lar, um lugar de amor, aconchego e felicidade”, relata.
Objetos antigos e quadros estão entre os preferidos para guardar histórias
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Como surgiu a decoração afetiva?
Não há uma data exata em que a decoração afetiva começou a ser usada por arquitetos. Na verdade, ela é resultado de uma mudança gradual de paradigma na área da arquitetura e do design de interiores, conforme explica Brunhare.
“Podemos dizer que essa tendência ganhou força a partir das últimas décadas do século 20, quando as pessoas passaram a valorizar mais a identidade e a história dos espaços que habitavam. Antes disso, a decoração era vista de forma mais impessoal, focada apenas em seguir padrões estéticos e de funcionalidade. Porém, com o tempo, a percepção mudou e as pessoas passaram a valorizar mais a individualidade e a personalidade dos espaços, o que abriu espaço para o uso da decoração afetiva”.
Cartas e bilhetes de familiares e amigos podem ser emoldurados no escritório ou quarto e trazer incríveis lembranças
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Essa tendência começou a ser utilizada por arquitetos também seguindo uma ideia de sustentabilidade, estimulando a reutilização e a restauração de objetos antigos e personalizados, como forma de evitar o consumo excessivo e a produção em massa de objetos de decoração.
Para construir esses espaços, a arquiteta e urbanista Naomy Berigo Andrade, de Sorocaba (SP), conta que faz uma análise dos gostos pessoais do cliente para deixar o ambiente com a sua cara. “Antes de realizar qualquer projeto, realizamos um briefing para entender melhor os gostos e tudo aquilo que é importante para o cliente. Sendo assim, aproveitamos o máximo para acomodar todas as decorações e personalizar ainda mais o projeto com esse toque especial”.
Segundo o arquiteto Guilherme Brunhare, essa tendência começou a ser utilizada por arquitetos também seguindo uma ideia de sustentabilidade, estimulando a reutilização e a restauração de objetos antigos e personalizados
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Como decorar com afetividade?
Existem diversas maneiras de aproveitar a decoração afetiva para tornar o ambiente mais convidativo. “Ela pode ser aplicada em qualquer recinto da casa, com uma coleção de canecas, objetos íntimos, imãs de geladeira, uma coleção de bonecos etc. Todas essas combinações deixam o nosso lar com a nossa personalidade”, afirma a arquiteta.
A técnica de enfermagem Mabilyn Cunha, de Sorocaba, reservou um cantinho especial em sua cozinha para criar uma decoração afetiva. Ela reuniu na porta de sua geladeira vários imãs. Além de deixarem o espaço mais colorido, cada um traz uma história especial de algum momento vivido, como os outros objetos que ela também escolheu para a decoração.
“Esse é um cantinho especial da minha geladeira. Tem ímãs, o primeiro ultrassom que enxerguei meu bebê e até o calendário com uma foto minha e do meu marido numa data especial pra nós (o dia do aniversário do nosso filho). Alguns ímãs eu comprei em lugares que visitei com ele; outros lhe dei de presente em algumas fases da vida. Quando saí do meu último trabalho onde conheci amigas especiais, ganhei um imã que está escrito ‘Gratidão’. Ele descreve perfeitamente o momento que eu estava passando e me faz lembrar com carinho daquela época. E por último e não menos importante, presenteei-me com um imã escrito ‘Ele vive’. Aqui em casa incluímos Jesus em tudo e não seria diferente na geladeira. Acreditamos que todas as nossas recordações foram possíveis por causa dele”.
Mabilyn Cunha mostra sua geladeira com imãs que ganhou de presente e do primeiro ultrassom com imagem do filho
Arquivo pessoal
“Faça você mesmo”
Outro modo de criar uma decoração afetiva, conforme Guilherme Brunhare, é utilizando técnicas “DIY”, temo conhecido como “Do it yourself” (“Faça você mesmo”). Ao aplicar essa técnica na decoração afetiva, é possível utilizar da personalização de objetos pessoais, como a utilização de um desenho feito por um filho ou até mesmo cartas recebidas em ocasiões pessoais, podendo emoldurar esses objetos ou até mesmo colá-los numa parede.
“É valido destacar que essa é uma forma de expressão pessoal e não há regras rígidas a serem seguidas. O importante é que a casa seja um lugar que reflita a sua identidade e que seja aconchegante para você e sua família. Por fim, a decoração afetiva é mais do que uma simples decoração, é um verdadeiro tesouro que o tempo nos oferece. Cada objeto possui uma memória, um valor sentimental que nos faz lembrar dos momentos mais importantes de nossas vidas. E, quando juntamos esses elementos, criamos um espaço único e cheio de significado que não apenas decora, mas emociona e nos faz sentir em casa”, finaliza o arquiteto.

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